segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Manifesto niilista
Se ao que busco saber nenhum de vós reponde, os abandono a todos, os ultrajo e choro, que já é noite e ninguém vê. Quem disse isso? Não sei, não lembro, essa massa de inutilidades encharca o meu cérebro como álcool, eu morro, eu desfaleço, como qualquer um e já não me serve a idéia de Deus, de nenhum deus antigo, nem dessas deusas novas que tentaram tomar, como titãs delicados, o céu; razão, ciência, revolução, de que me vale tudo isso? Todas elas exigem sangue, holocaustos, não de animais, mas de homens e todas elas sucumbem aos demônios coloridos do poder, do orgulho, do dinheiro. Não te falaram que todos os profetas morreram e ao contrário do que dizem, não deixaram descendentes, não te disseram, que a revolução mudou apenas o nome dos tiranos e que a pobre ciência cresceu a custa da angústia, da descrença. Eu não te amo, medíocre e esplêndida vida que tenho, mas de que adianta morrer, não há ganho em te perder, não morreria por nada, nação, crenças, idéias, valores, paixão, tudo passa debaixo do sol, tudo é vaidade, como já dizia Jesus, não o filho de José, mas o filho de Sirac, que viveu antes dele e que não o anunciou, não, eu não sou um crente da descrença, os que crêem vivem melhor, não, eu não acredito no suicídio, eu debocho de todos os suicidas, por que nasceram com pouca fibra, ou com excesso de coragem, não vale a pena morrer, não adianta enlouquecer, as drogas todas não ensinam nada, são confeites para crianças cada vez menos crescidas e os mais velhos sabem tanto quanto qualquer um. Não acredito tanto assim no dinheiro a ponto de não crer em todas as cotidianas formas de malignos carcinomas, que semeiam a morte, sem um mínimo de consideração social e o sexo, o sexo é divertido, mas como eu não sou príapo não dura tanto assim e nem sobra a arte, a arte não é nada demais, é só outra forma de viver, ao mesmo tempo longe e perto daqui e já não falo do amor, que se desfez em versos e não resiste ao tempo e por fim já não creio no tempo, pois sou eu que passo, eu que envelheço, creio em mim, mas eu não existo, todo o dia me reinvento, me extravio, me perco e só a noite me encontra a vomitar sandices, como estas, pois não creio em nada do que disse, ou só cri a um segundo atrás, não, não creio na descrença, mas acho bela aquela flor rosa pálida, que varreu Hiroxima com sua voracidade de antibiótico e não há por que não reparar beleza no que disseram os molestadores da lua e nos profanadores da guerra, que me roubaram o sagrado direito de matar, sim, por que se não morreria por nada, também por nada mataria. Assim, o que fazer quando a carne reclama que eu espanque até se exaurir as forças dos meus braços, qualquer um que me roubar a paz, que me tirar do sério? Todos esses anos de civilização me emascularam e o que é a civilização senão a forma vitoriosa da barbárie, que por ser a mais bárbara triunfou? Os reis do oriente punham o pé direito sobre a cabeça curvada dos reis vencidos, depois mergulhavam esse mesmo pé no sangue do inimigo morto; os apaches tiravam o couro cabeludo dos inimigos, cortavam-lhe o pênis e o colocavam na boca do castrado; os endinheirados de hoje deixam morrer a mingua qualquer um que não tenha um cartão de crédito, esses são invisíveis, importunos e inúteis, a existência deles chega a ser um crime, assim qualquer conduta deixa de ser criminosa, se aplicada a esta humanidade dispensável, a essa não humanidade, que insiste em existir, sendo útil apenas como fornecedores de órgãos, de sexo e de auto-estima, àqueles que vivem no aquário das suas vidas bem guardadas, onde um Deus de luz e plástico lhes diz com base em pesquisas científicas, quando devem casar, a que horas devem dormir, quantos quilos devem pesar, e o que vestir, o que comer, o que fazer para sempre parecer feliz. A felicidade é uma exigência que várias pílulas multicoloridas prometem trazer, se não a felicidade em si, tão fugidia, sua aparência. Há receita para tudo, um adulto entre trinta e quarenta anos deve fazer sexo três vezes por semana e masturbar-se uma vez, esse é o ideal, assim fazem os famosos, novos deuses do Olimpo, que por terem a vida filtrada por lentes, parecem viver uma vida mais intensa que qualquer mortal, porém isso é o que eles não são, são divas, ídolos, deuses, que de uma ora pra outra, veja você, morrem, tem diarréia nervosa, câncer, medo, visto de perto são iguaizinhos, arrotam e peidam e peidam merda mesmo e não perfume e é tão desagradável sentir o peido de uma dessas celebridades, quanto de qualquer um. É certo que nem de tudo é possível fugir, por exemplo, da escola, que é uma forma de ocupar o tempo dos jovens com conhecimento inútil, afinal se você não quer ser matemático, crítico literário ou historiador, não é muito relevante saber calcular um polinômio, saber identificar um hipérbato na primeira lida e sem titubear ter em mente o nome do terceiro imperador romano do oriente, ou do segundo que seja, porém, em última instância, o responsável por sua vida é você mesmo, não é a família, não são os amigos, não é a igreja, ou a falta dela, o estado, a mídia, deus ou o demônio, o responsável é você, ninguém convence ninguém, você é que se deixa convencer, contudo é difícil aceitar essa verdade incontestável, só você é o responsável pelos seus atos, cada uma das suas alegrias é uma faca de dois gumes, porém o quê digo aqui, acaso sou algum moralista inglês, ou um padre de paróquia do interior a vociferar pelo pano de menos na saia das moças? Vão todos para o diabo, sozinhos e calados ou juntos, que talvez seja mais divertido, o que sei é que as vezes preciso de silêncio e solidão e outras de convívio e companhia, como já dizia aquele alemão que morreu de tanto pensar, contudo meu pai sempre me alertou “de tanto pensar morreu um burro”, depois o que sei eu da vida, não sei nem mais nem menos que qualquer um, por isso ignorem tudo o que eu disse, pois escrevo agora não com o intuito de mudar o mundo, já perdi as ilusões que tinha de me tornar rei, escrevo apenas por não ter o que fazer e estar indisposto, afinal de contas nenhuma filosofia existiria se as mulheres fossem mais disponíveis, assim não tenho nada que preste a dizer e muito menos a ensinar. Vão todos para a puta, a grande puta fodedora que os pariu.
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