quarta-feira, 13 de abril de 2011

Quem bate, esquece, quem apanha, não

Wellington, esse era o nome do menino indefeso, do monstro, do louco e, seguramente, do rapaz infeliz que agonizou não apenas por meses, mas por uma vida inteira.
No seu ridículo testamento deixou o quê tinha para os bichos, irmãos no sofrimento. Não teve pena dos homens, dos meninos, das meninas. Talvez por que os bichos, ao contrário dos homens, nunca tenham lhe feito mal.
Rejeitado por todos deixou-se seduzir pelo mal, pela onipotência que uma arma de fogo comunica a qualquer mão, mesmo que ela nunca tenha tocado uma mulher.
Percebia o quanto todos admiravam, não os mansos, mas os cruéis e quis ser como um deles. Planejou tudo, cada momento, acalentou aquela idéia como o primeiro amor e, certo dia, achou que era a hora de dar um fim a tudo, de se fazer notar.
Finalmente seria o centro das atenções, existiria. Não seria a vítima, seria o algoz.
E assim o fez, se vingou do mundo que nunca o aceitara e levou com eles doze crianças que não tinham nada a ver com a história.
De quem a culpa?
Dele, seguramente, que enlouqueceu aos poucos. Da família que não prestou a atenção devida no seu comportamento errático, dos colegas impiedosos que fizeram da sua existência motivo de riso.
Sim, as crianças podem ser muito cruéis.
De quem é a culpa, da mídia que transforma assassinos e estúpidos em celebridades, dos professores que não o defenderam da maldade dos colegas, de Deus que nos abandonou a todos nesse vale de lágrimas, do diabo que seduz os homens?
Mas, ele pode ter simplesmente nascido louco e quem disse que a família não tentou ajudá-lo? E quanto aos colegas, atire a primeira pedra quem nunca fez chacota do seu semelhante, ainda mais com doze anos?
E a mídia? Bem, qualquer um pode mudar de canal, quanto aos professores, é querer demais que uma única pessoa saiba o que acontece com quarenta adolescentes em uma sala de aula e ainda encontre tempo para dar o conteúdo. E Deus? Bem, Deus nos deu o livre arbítrio e o diabo tem mais o quê fazer do que está tentando um rapaz em Realengo.
Então de quem é a culpa?
Não sei e não me interessa de quem é a culpa. O que está feito está feito e já não tem remédio.
Talvez sejamos todos culpados e todos vítimas.
Mas, como se precaver do inesperado?
Não há como se precaver, a vida é precária e os terroristas, pelo menos é o que sobre eles escrevem os especialistas no assunto, costumam dizer que: “ninguém é inocente e ninguém está seguro”.
Fazer o que então? Um pacto com o diabo, rezar, por um PM na porta de cada uma das escolas?
Acho que não.
Talvez estender a mão para quem é diferente, talvez uma palavra gentil a quem nos implora, calado, alguma atenção, talvez um gesto de carinho evite o inferno.
Talvez...

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