segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Os novos mouros

Antônio Moraes de Souza, casado, pai de três filhos, funcionário público federal e descendente de uma decadente família de proprietários de terras, está preocupado, pois os mouros estão chegando, estão descendo dos morros, dos alagados, da beira dos riachos, das periferias e estão invadindo até mesmo os shoppings centers e as universidades sérias, não se contentam mais, pelo menos uma parte deles, com as de mentirinha. Estão cada vez mais perto, e mesmo na sua casa, exigem carteira assinada, décimo terceiro salário, férias remuneradas e caso engravidem por uma displicência qualquer, não querem abortar, nem aceitam uma passagem e alguns reais para voltar para o interior, não, agora entram na justiça, pedem exame de paternidade, arrancam o sangue de quem caiu na sua lábia. É gente sem caráter, de uma cor indefinida. Não andam de carro, mas agora deram para tirar carteira de motorista, apinhando os detrans, isso quando não acham que uma moto chinesa é a mesma coisa que uma Ferrari e saem por aí dirigindo como se fossem os donos do mundo.
Muitos sequer têm computador, mas invadiram o Orkut com suas caras feias e seus gostos deploráveis. Essa gente não gosta de Bossa Nova, não gosta do Tom Jobim, gostam do Roberto Carlos, ou gostavam, sei lá. Não gostam do Caetano Veloso, detestam o Caetano Veloso, gostam do Daniel. Não ouvem a Marisa Monte, dançam ao som de Ivete Sangalo. Não gostam de Rock, mais ainda ouvem Raul Seixas, gostam mesmo é de samba, pagode, forró, brega, sertanejo, funk e da novela das oito. Não tem modos, falam alto, dizem quatro palavrões a cada cinco palavras, não acertam uma concordância, andam sempre em bando e carregando embrulhos. Não bebem vinho, prosecco, bebem cerveja, cachaça, rum e vodca e quando vão à sua casa é para encher a cara com seu uísque 12 anos e o rabo de comida boa. Querem casar com seu filho e comer a sua filha na sua casa. Não reconhecem mais o seu lugar.
José Carlos de Andrade, divorciado, pai de um casal de filhos, que fazem intercâmbio na Inglaterra, professor universitário e militante de esquerda também está preocupado. Tenta atribuir suas angústias a sua crise de meia idade, mas a verdade é que está assustado com os mouros, que não rezam por sua cartilha, nunca rezaram, pois continuam assistindo o Jornal Nacional e dando poder a Globo. Não lêem e quando lêem, lêem o Paulo Coelho, e não gostam do Cinema Novo. Riem de “Deus e o diabo na terra do sol”, pra eles cinema é cinema americano e só. Do Brasil só mesmo aquelas pornochanchadas nojentas. Não suportam, os imbecis, que se fale em direitos humanos, querem é a morte dos detentos, que podem ser, e com freqüência são, seus pais, irmãos e filhos e quando conseguem articular algum argumento em prol dessa calamidade, dizem: “cadê os direitos humanos quando um pai de família está passando fome, quando uma moça morre do coração por causa da greve dos médicos, ou um acidentado vai para a cidade dos pés juntos nas portas dos hospitais, por falta de vagas. Quando uma mulher pare feito uma cadela no meio da rua, porque a maternidade está lotada, quando o filho da puta do ministro manda os velhos pra fila do INPS não têm direitos humanos, agora prenda um ladrão safado, aí tem direitos humanos, para rico não usar algema e pra quem tem diploma ter cela especial, aí vale os direitos humanos. Pra filhinho de papai que arrebenta empregada e queima índio, aí tem direitos humanos, mas pra filho de pobre tem é chumbo quente na cabeça ou cacete no lombo, aí não tem direitos humanos.” Não querem mudar o mundo, querem é enriquecer e alguns têm raiva até dos sem-terra. Votam no Lula, mas gostam de ouvir os discursos do Mão Santa na TV Senado. Podem não ter um centavo no bolso, mas têm dinheiro para comprar celular e perfume barato. Brigam por um time de futebol e não pela diminuição dos preços das passagens de ônibus; não discutem política, gostam é de falar mal da vida íntima dos políticos. Personalizam tudo. Perdoam um ladrão, mas não perdoam uma puta. Gostam mesmo é de conversar safadeza e pular carnaval. Povo estúpido. Não sabem querer.

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