II – O 1 Trabalho
Zanzei a esmo pelo centro da cidade velha, mas não demorei a entrar em um bar, na realidade tentei evitar alguns, mas não havia como fugir, pois era torcer pro Flamengo ou encarar aquela que iguala todos os viventes e quem sabe aquele negão de rola enorme, de modo que eu enchi os pulmões e gritei “mengo” e fui brindado com muitos sorrisos banguelas e as gentilezas de uma mulher já velhusca, com o cabelo louro-puta que me disse:
- Procurando um bar pra ver o jogo, tem um bem ali na esquina.
E foi gingando na minha frente e eu acompanhando o rebolado, afinal de contas, se você está em Roma faça como os romanos.
Em uns cinco minutos chegamos ao bar da Zeza, uma orca falante sem nenhum dos caninos, molares e pré-molares que foi logo saudando com a rafaméia presente a minha Lolita, que chamava Têca Baladeira. Ela então (a minha acompanhante) utilizando seu melhor sorriso me levou até uma mesa, nós sentamos e ela perguntou:
- Me paga uma cerveja?
- Claro.
E como por um passe de mágica um quase anão com um palito de dentes apareceu com os copos e logo em seguida com a cerveja.
A loura então não perdeu tempo e disse:
- E o tira-gosto? Posso pedir queijo de coalho.
Eu tive vontade de dizer: e agora é cana pra ter tira-gosto, puta safada, mas refreei a língua e como um punheteiro apaixonado falei:
- Pode.
Só faltou completar com um “meu benzinho, meu dozinho de coco, meu cuzinho doce”.
E quando dei por mim o jogo já tinha começado e aquela mundiça podre, desdentada e fendida só fazia gritar:
- Mengo, mengo.
Retardados, mas não tardou o primeiro gol.
Eu fui o único que não levantei, mas Têca Badaleira me abraçou e deu um jeito de encostar a mão no meu pau e dizer:
- Você não grita?
- É que quando eu fico nervoso eu fico assim.
No intervalo um vagabundo ainda teve o desplante de dizer:
- Tá preocupado, se preocupe não, o Vasco é freguês.
Aos dez minutos do segundo tempo, no entanto, o Vasco empatou e só eu gritei:
- Pega agora, filho da puta.
E diante de olhos surpresos eu fui logo dizendo.
- É que eu não gosto desse goleiro, se fosse o Júlio César.
E pensei, “falhava como fez na copa contra a Holanda”.
Mas aí me dei conta que se eu não torcesse pelo Flamengo, se aquela quizila de time não ganhasse eu ia ganhar o que Maria ganhou na feira e então bateu o desespero e eu passei a suar frio, gritar, chutar quando um daqueles filhos da puta chutavam e nada do gol sair, até que em um escanteio um zagueiro do Vasco fez contra e eu pulei, abracei a rafaméia toda, beijei na boca Têca Baladeira e lhe dei um beliscão na bunda flácida de tanto levar arrocho e gritei:
- Cerveja pra todo mundo que eu pago.
E apalpando o bolso e lembrando que não tinha dinheiro pra mais de duas cervejas, aproveitei a presepada e disse:
- Ai ai mamãe, eu vou ficar nu. Vou ficar nu no mei da rua.
Ameacei ir e não fui, mas já sem agüentar a catinga da axilose dos meus irmãos de camisa, corri para a praça em frente e de lá sem olhar pra trás me mandei como se fosse até a rodoviária, enquanto o juiz apitava o final do jogo.
Aposto que corri mais que o vencedor dos cem metros e salvei meu cu, pelo menos daquela vez.
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