segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A batalha dos bem-te-vis contra os pardais

Antes foi um tempo de delícias, tudo que a sua vista alcança era nosso, vivíamos felizes e não havia mal. Nossas eram essas águas infindas e essas matas sem par, que hoje são apenas lembrança e vestígio. Tínhamos tudo, não precisávamos lutar pelo nosso devido quinhão de céu azul. Tudo era bom e belo e nós não fazíamos caso do perigo iminente. Éramos puros e vivíamos a época da inocência no nosso gigantesco jardim das delícias, mas para eles, para eles nós éramos tolos, pois ignorávamos o mal, e por isso não vimos neles o outro, mas sim irmãos e havia tanta fartura, que apesar da sua cor pardacenta que veio enfeiar nossos trópicos benditos, nós os acolhemos, os ensinamos como sobreviver na mata, contamos nossos segredos e lhes entregamos a ciência de discernir os bons dos maus frutos; porém assim que eles se acostumaram a esse sol desusado nas suas frias terras de origem, cresceram, se multiplicaram, ficaram mais fortes do que nós e com parcimônia, mas constantemente, foram se imiscuindo no nosso lar.
Eram seres alienígenas, sim, alienígenas, porque aqueles com quem chegavam traziam consigo alimárias e grãos e frutos e ervas que nós não conhecíamos e foram eles que plantaram essa outra floresta, que foi substituindo a nossa, que ardia dia e noite para nosso constante desespero. A mata deles era de pedra, maninha para nós, pois eles não nos ensinaram seus soturnos segredos e assim nós, que éramos senhores do mundo, perdemos o mandato do céu e ficamos cada vez mais confinados a guetos, a pequenos bosques, macegas e capoeiras, onde nossa gente minguava dia e noite, pois tudo mudava, o regime das chuvas, a temperatura. E enquanto nosso alimento rareava, eles se revigoravam com a nossa fartura, comiam da nossa fome, pois cada verde que queimava era uma estaca cinza que nascia, e assim nos tornamos tristes, moles, enfermiços, desbotamos, quase perdemos a cor, definhamos e nossa magreza aflitiva era testemunha do nosso infortúnio, em uma só palavra, “emudecemos”. Eles nos pagaram o bem que nós os tínhamos feitos com o mal e era isso que nós não compreendíamos, contudo, quando a vitória deles parecia absoluta, quando eles eram milhares, milhões até e nós centenas, surgiu um libertador entre nós, que guiou o povo descrente, alquebrado e taciturno para deixar de lado antigas crenças e tomar o que é nosso e que nos foi usurpado, só então tivemos a singela ousadia de cruzar o céu da mata cinza, da mata que eles diziam deles, com o nosso colorido amarelo, só assim redescobrimos a alegria de viver, mas não foi fácil, nada é fácil, eles reagiram com violência e seus bandos barulhentos e hostis perseguiam nossos pares, porém nós nada tínhamos a perder e aos poucos fomos aprendendo a ciência daquele mundo pardo, a começar pelos quintais, os jardins, os parques. Aprendemos que uma de suas árvores alienígenas tinha um fruto doce e sumarento e ainda amarelo, um doce que nos revigorava para a batalha. Na nossa fúria santa aprendemos a disputar esse fruto, que alguns chamam manga, até mesmo com os morcegos, e isso ao cair da tarde quando o cansaço nos atinge e nós já não vemos bem.
Assim, revigorados com esse novo alimento, aos poucos fomos vencendo as batalhas, ganhando terreno e só então pudemos enfim gritar sem medo pela madrugada a fora, bem naquele instante em que a luz se anuncia, que esta terra e não outra, é a terra dos bem-te-vis, esse nosso nome, esse nosso grito, que hoje ressoa em cada canto dessa selva que eles chamam cidade, em cada árvore, amedrontando os pardais, que em um tempo que não tardará muito, expulsaremos para além dos mares e para a fria e feia e triste terra de onde eles partiram para semear a danação no meio de nós. Que assim seja e que não tarde.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

De como fazer a guerra e não morrer por causa disso

O homo sapiens sapiens que, segundo o filósofo Jonh Huizinga, não sabe tanto assim, possui um instinto básico, o de sobrevivência, do qual derivou o instinto sexual, responsável pela procriação da espécie e o instinto de caça ao qual está associado uma dose considerável de violência, o que transformou nossos antepassados de simples presas ou animais carniceiros em predadores.
Como as atividades de caça demandavam muitas horas e às vezes muitos dias de espera, os homens desenvolveram o instinto do jogo ao qual está associado o instinto de competição.
Logo logo (alguns milênios) então os homens sentiram a necessidade de medir de maneira pacífica quem seria o mais forte e o mais rápido, sendo esta a origem dos primeiros esportes, porém o que a maioria de nós não se dá conta é que o esporte, especialmente os esportes coletivos e de contato físico direto são não somente uma espécie de “caça estilizada”, mas sobretudo uma guerra sem mortos, embora muitas vezes com feridos.
Não é a toa que embora em várias sociedades as atividades esportivas tenham existido, a popularização dessas práticas e a sua transformação em um negócio milionário só ocorreu quando as guerras se tornaram cada vez mais sangrentas, ou seja, especialmente depois de 1945, quando para utilizar uma palavra da minha infância, uma guerra “na vera” entre EUA e URSS significaria o fim da existência humana na terra, por isso tanto esforço das superpotências para chegar ao topo do quadro de medalhas nas olimpíadas, ou seja, a guerra “na brinca”.
Contudo, apesar das Olimpíadas, qualquer um que não more nos EUA sabe que o esporte mais popular do mundo é o futebol e claro que eu não estou aqui falando do futebol americano, esporte em que a comparação com a guerra seria mais fácil, falo do futebol sem qualificativos, do futebol e ponto final.
Reparem, como diria minha vó, as semelhanças entre uma coisa e outra, guerra e futebol. Tanto as torcidas quanto os times lembram exércitos, cada time com seus distintivos, mascotes e hinos e as torcidas com suas enormes bandeiras e gritos de guerra, no mínimo um pouco chulos.
O vocabulário militar foi largamente incorporado pelo futebol. Os goleiros são arqueiros, como os antigos soldados que usavam arco e flecha desde a antiguidade até a Idade média; o jogador mais experiente da equipe, em geral um zagueirão ou um volante meio truculento com cara de poucos amigos é o “Capitão” da equipe e o goleador do time é o “Artilheiro”, como os soldados responsáveis pelo arremesso de projeteis nos adversários, a princípios eram pedras, fogo grego, balas de canhão e hoje são morteiros e outros brinquedos de satanás.
Para não melindrar os mais sensíveis não vou citar gritos de guerras de torcidas como o famoso: Bota pra... Basta dizer que as torcidas sempre invocam expressões chulas ou alguma imagem aterradora. Assim, entre os clubes brasileiros ninguém conhece, por exemplo, uma galera com o nome de “Beija-flores da leal”. Nada disso, ninguém respeitaria uma torcida com esse nome. As torcidas portanto chamam: Gaviões da Fiel (Corinthians), Mancha Verde (Palmeiras), Inferno Coral (Santa Cruz), Máfia Azul (Cruzeiro) e etc.
Os hinos, quase todos marchas militares, trazem imagens de guerra: heróis, esforço, sangue, luta, morte. Assim, para não dizerem que eu estou mentindo seguem alguns exemplos:
Começando com o hino do Palmeiras:

Quando surge o alviverde imponente
No gramado em que a luta o aguarda
Sabe bem o que vem pela frente
Que a dureza do prélio não tarda

Na mesma toada segue o hino do Auto-Esporte

Esperando confiante, a vitória conseguir
A luta contra tudo e contra todos começou
O Auto Esporte vai mostrar o seu valor

O Centro Esportivo Alagoano mais conhecido como CSA vai um pouco além:

Azulinos impávidos e fortes
Enfrentemos os nossos rivais
Nosso time não tem adversários
Não seremos vencidos jamais

No que é seguido pelo Fortaleza:

No campo,
provaste mesmo que não tens rival,
tua turma é valente, é sensacional,
salve o Tricolor de Aço.
Soberbo,
tua fibra representa um norte,
combativo, aguerrido, vibrante e forte.
Sem demonstrar cansaço,

A Desportiva Ferroviária vai no mesmo diapasão:

Vencer, vencer, vencer!
É o grito da torcida que desperta.
O suor grená de suas lutas
Parece sangue que corre em nossas veias.

Por fim o hino do Paysandu é praticamente uma canção de guerra:

Cada um de nos guarda no peito...
Somos jovens e ousados paladinos,
E sempre achar-nos-hão de gladio nu,
Elevando nos prélios mais ferinos
Com honra o pavilhão do Paysandu
Cada um de nós guarda no peito...
Amamos os cambates! e na luta,
Como antigos heróis nos comportamos,
Por isso a voz do público se escuta,
Saudar o Paysandu com meus aclamos
Cada um de nós guarda no peito...

Porém a apoteose vem com o hino do Atlético paranaense:

ATLÉTICO ! ATLÉTICO ! ...
A TRADIÇÃO, VIGOR SEM JAÇA,
NOS LEGOU O SANGUE FORTE,
RUBRO-NEGRO É QUEM TEM RAÇA,
E NÃO TEME A PRÓPRIA MORTE.

A linguagem da guerra não está apenas nos hinos, mas nos qualificativos pelos quais são conhecidos os times: o Timão (Corinthians), o Verdão (Palmeiras), o Mengão (Flamengo), o Papão da Curuzu (Paysandu) e outros ãos menos cotados, o Glorioso (Botafogo), o Gigante da Colina (Vasco da Gama), o Furacão (Atlético paranaense), o Leão da Ilha (Sport Recife), o Tubarão da Barra (Ferroviário), o Tricolor de Aço (Fortaleza) e etc.
Por fim como diriam os velhos que ainda ouvem o jogo apenas no rádio, atacante bom é um centro-avante “MATADOR” e de preferência com um nome que intimide ou que faça referência a alguma habilidade estupenda ou algum atributo extraordinário, ou que apenas soe grandiloqüente assim como: Leônidas da Silva, o Diamante Negro; Vavá, o peito de aço; Dadá Maravilha; Roberto Cavalo; Paulo Bala; Euler, o filho do vento; Edmundo, o Animal; Kléber, o Gladiador; Ronaldo Fenômeno.
É verdade que esses novos guerreiros não arriscam a vida e ultimamente tem trocado constantemente de exército, porém o torcedor não tem essa mesma chance, um time é como um filho, é pra sempre, depois, o esporte é só uma simulação da guerra, onde não deve morrer ninguém, embora algumas torcidas organizadas formadas por obtusos torcedores não tenham entendido muito bem isso e continuem fazendo de cada jogo uma ocasião para uma pequena guerra particular que não deixa de fazer pelo menos uma vítima a cada campeonato. Para eles o futebol não é um simulacro de guerra é a guerra possível.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Biscoito grosso

Herói da resistência

Sarney forever. E a gente toma no forebis.

Pânico

Eu só tenho medo de três coisas: mulher gorda na TPM, a gripe suína e o olhar do ex-presidente Fernando Collor de Melo. Vixé Maria.

Ronaldo Fenômeno

Parece que depois da lipoaspiração o atacante vai trocar o Parque São Jorge pelo Morumbi. É justo.

O novo jornalismo brasileiro

Aquele que cria o fato e depois divulga. Foi em Manaus, mas bem que podia ter sido o carniceiro do meio-dia da sua cidade.

Coritiba X Santos

Acredito que a juíza que determinou que todos os que fossem ao estádio usassem máscaras, para se prevenirem contra a gripe suína, é dona de todas as farmácias de Cascavel.

Chave de bosta

Em uma das piores semanas já vividas pelo nosso Senado, instituição que tem quase duzentos anos, “o bom errado”, Eduardo Suplicy, subiu a tribuna e não para pedir o afastamento de Sarney ou dizer umas verdades ao Renan Calheiros como se esperava, mas sim para fazer uma homenagem ao pai cantando com sua voz de taquara rachada. Não foi, mas pareceu um deboche.

Mais uma do Hugo Chávez

O Presidente da Venezuela ameaçou entrar em guerra com a Colômbia por causa da instalação de bases norte-americanas no país vizinho. Tá bom. Vai ter guerra quando crescer a unha do catoco de dedo do Lula.

O grande Edir

A Polícia Federal descobriu o óbvio ululante, ou seja, que um pastor, que nunca fez outra coisa na vida, conseguiu comprar a TV Record com o dinheiro dos fiéis.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Admirável mundo de sempre

Será mesmo que a gripe suína foi uma invenção do Lula para manter no cargo o ministro da saúde José Gomes Temporão ou uma conspiração dos laboratórios farmacêuticos americanos para vender anti-gripais ao mundo inteiro? Não sei, quase tudo é ministério, menos os orifícios das atrizes de cinema pornô, porém como me comovi com o depoimento de um viúvo que perdeu a mulher em decorrência da gripe suína eu não mais farei especulações sobre a nova moléstia.
Melhor falar da inofensiva presença americana na Colômbia ou na triunfante democracia venezuelana. Algumas coisas não mudam, algumas coisas como o Sarney, o Renan Calheiros e o Collor e seu olhar matador. Se eu fosse o Pedro Simon me benzia, afinal de contas basta puxar pela memória para relembrar o que aconteceu com o Pedro Color, o PC Farias, o Ulisses Guimarães e o Antônio Mariz e ainda o Ibsen Pinheiro, que não morreu, mas caiu em desgraça. Sábio homem esse Pedro Simon, porém, infelizmente, já não se fazem gaúchos como antigamente, basta ver o noticiário sobre o deputado de Santa Cruz do Sul que está se lixando para a opinião pública e a menina maluquinha que ainda governa o Rio Grande do Sul.
Não estranharia se brevemente em terras gaúchas não aparecesse um carniceiro como aquele de Manaus, que matava bandidos para exibir no seu programa de televisão. Rapaz isso parece enredo das aventuras do Super-Homem, porém como é sabido de todos, no Brasil a corrupção atinge todos os estados, todas as cidades, todas as famílias e os corruptos são bem mais surreais que as peripécias de qualquer super-herói, como também dos personagens de qualquer literatura, por isso aviso aos navegantes que Paulo Salim Maluf não é uma criação do Gabriel Garcia Márquez, embora pareça.
Apesar disso, apesar de tudo, o Lula continua sorrindo e ele é que faz bem, pois comprou o país inteiro, a UNE que o diga, e enfrenta a mais patética das oposições. Na realidade o maior perigo para a eleição da Dilma está no próprio PT e não tanto no vampiro do Zé Serra, afinal de contas o bolsa-família está aí e o controle populacional dos pobres, sempre em excesso nas nossas cidades, está sendo feita com eficiência pelos traficantes, pelo crack, pelo mosquito da Dengue e pelo SUS, as grávidas cariocas que o digam.
Mas chega de aporrinhações agora é esperar que o Ronaldo Fenômeno se recupere da lipoaspiração. No mais melhoras sinceras para o vice-presidente, o único político querido por todos os brasileiros.

domingo, 2 de agosto de 2009