terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os 12 trabalhos de Wesley Djalma

I – Em que se tenta explicar o que se passou com o nosso herói

Eu morri, sim, eu morri, mas como eu não sou Moisés, ninguém brigou por minha alma, e quando eu cheguei ao céu ou ao inferno, no limbo, no purgatório, eu sei lá o que caralho era aquilo, fui recebido não por um anjo safado como no poema do Carlos Drummond de Andrade ou na música do Chico Buarque, não senhor, fui recebido por um negão com uma pica enorme que só fazia me olhar e ri com a mão no queixo, mais nada, aparecia e desaparecia e quando eu reparava na rola dele eu tinha tanto medo que pelo meu cu não passava nem pensamento, mas parece que ele era só um sadicozinho, um piadista, um cabra safado do além, de modo que da última vez que ele me apareceu, fez um sinal como se fosse chamar alguém e se foi.
Eu tive medo.
Mas, graças a Deus, veio falar comigo um chinês que se vestia como chinês de filme de Kung Fu e que falava com aquela voz de peido de tabaco de filme de Kung Fu.
Ele me disse:
- Você morreu, né. Você tá fudido, se fudeu né, mas tem jeito, tudo tem jeito, só não tem jeito pra morte, né.
- Acuma?
Eu disse.
- Que dizer, se você realizá doze trabaio vai ter sua vida de vorta, mas pra cada um deles tem um nigma, um segredo que tu vai ter que desvendar.
E de repente o chinês era uma velha do sertão, um maconheiro baiano, um anão de jardim e sumiu e eu então me vi de volta a terra, tava numa praça, a praça da gala, mais chapado que personagem de filme adolescente e então veio falar comigo uma dessas putas de um real.
Tive a impressão que ela não tinha um dente na boca, mas quando abriu a tromba saiu uma voz de Dart Veid que quase me deixa todo obrado.
Ela me disse:
O que fede mais que carniça? O que vale menos que puta? O que não tem dente e nunca terá? Esses serão teus irmãos, a vitória deles será a tua vitória.
Disse isso e foi embora.
Era sem dúvida nenhuma a chave para o primeiro trabalho. E eu que nunca fui bom nem em adivinhação tive vontade de coçar a barba que eu não tinha e arrancá-la de tanta raiva. Mais eis que passa pela praça um irmão de camisa, trajando a bela camisa do Clube de Regatas Vasco da Gama e me diz:
O que tem todos os atributos da estupidez?
E aí, ele não precisava nem falar, pois eu já havia matado a charada.
Ora, o que fede mais que carniça? O que vale menos que puta? O que não tem dente e nunca terá? O que tem todos os atributos da estupidez?
Um flamenguista ora essa.
Mas, contudo, e entretanto, pensei assustado, se eles serão meus irmãos terei que torcer pro Flamengo e mais, entre eles. É essa a chave do enigma. E ao descobrir o óbvio não pude refrear um palavrão:
- Chinês filho da puta.
Vaguei então como um ébrio pelas ruas da velha cidade e por onde eu andava lá estava um desdentado, cheirando a carniça e vestido de preto e vermelho, mas como eu não queria morrer resolvi aceitar a pena que os deuses me infligiam e só então pude me fitar na porta de vidro de uma loja, eu também vestido com a horrenda camisa rubro negra, e mais, “eu fedia”.

Continua...

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