segunda-feira, 16 de abril de 2012

Que fazer

Interpretar o Brasil não é fácil. Se o grande Karl Marx tivesse tentado interpretar o Brasil queria ver o que saía.
Tenho um palpite.
Merda.
Isso se o barbudo não resolvesse visitar a Terra de Santa Cruz e acabasse comendo farinha, bebendo cachaça e filiado a um partido de centro alguma coisa.
Contudo, como o Brasil permaneceu ignorado, dormindo em berço esplêndido por alguns séculos, poucos estrangeiros se deram ao trabalho de tratar da pátria do cruzeiro e assim os próprios brasileiros tiveram que assumir o trabalho sujo e não raro usaram como armas o humor.
Esse foi o caso de Chico Anysio e também o de Millôr Fernandes, que muito antes de encontrarem aquela que iguala todos os viventes, já haviam entrado para o panteão nacional.
Foram dois dos raros e eficientes explicadores do Brasil aos brasileiros e por isso ganharão um céu de mulatas e sorrisos, onde beberão vinho de jurema e conversarão safadeza, isso quando não estiverem fazendo safadeza, depois irão a missa.
Mas não sentirão culpa, pois no céu não existe culpa nem argentinos e muito menos políticos, hipócritas ou militares e quem sabe lá, podendo falar com “o homem” (talvez essa não seja a palavra apropriada), não possam fazer alguma coisa por nós.
Tudo bem, já fizeram muito por nós, nos tornando mais felizes e inteligentes, mas tenho certeza que não se importarão, caso puderem, sugerir ao todo poderoso que envie hemorroidas para todos os que se locupletarem com dinheiro público, ou que mesmo honestos, deixarem roubar, não precisa ser uma doença mais grave, uma hemorroida serve.
Pastores poderiam também perder a fala, olha que maravilha, e militares sentirem uma irresistível vontade de dar o, bem, vocês sabem.
Mas e nós, o que podemos fazer por eles?
Deixar viva a memória de ambos, não apenas dando o nome de ruas, praças e escolas a nossos grandes explicadores, mas tornando cada vez mais acessível a toda a gente, suas criações. Os personagens de Chico revividos por outros artistas, os livros do Millôr sendo adotados nas escolas ou encenados nos palcos.
Um deles sempre presente nas páginas do jornais, sejam elas de papel ou de luz e o outro sempre presente nas telas, pouco importa a qualidade da imagem ou o tamanho.
O que importa é que estejam sempre entre nós, como Cervantes para os espanhóis, como Fregoli para os italianos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Marmelada

Demóstenes, o cínico.

Tudo bem, o correto seria Diógenes, mas vale o trocadilho.

Se gritar pega ladrão

Demóstenes envolvido com o Cachoeira, o dono de Goiás, enquanto a ministra Ideli Salvati tem que explicar aquela história das lanchas.

Puta que pariu

Depois do Chico Anísio foi a vez do Millôr Fernandes encontrar a grande assassina. É uma pena.

De novo não

Lá vem o Renan...

Óbvio

Fidel continua Fidel. O Papa que o diga.

É um “mano” mesmo

E o Mano continua fazendo vergonha ao país.

Conselho

Dona Dilma, legalize o jogo do bicho. É a melhor forma de diminuir o poder dos bicheiros.

Puta que pariu II

Estados Unidos, Noruega, Brasil, França. Os malucos não tem pátria, tem ódio.

Indy

Força Rubinho.

Barbárie

Em São Paulo os clássicos têm também um placar dos mortos.

O super-homem

E o Adriano conseguiu mais alguns otários para pagar suas férias remuneradas.

Indignação automotiva

Se eu fosse presidente da República não duraria no cargo, por que uma das minhas primeiras medidas seria aumentar os impostos sobre cigarros, bebidas e sobre combustíveis para “carros de passeio”.
Dobraria, triplicaria os impostos sobre combustíveis e cortaria qualquer tipo de benefício fiscal de auxílio a indústria automobilística e, claro, iria logo arrumando as malas do palácio do planalto.
E por que eu agiria assim? Por que fui atropelado por um automóvel? Não e também não tenho nada contra carros e o automobilismo como esporte, tenho contra os engarrafamentos que tornam a vida cada dia mais insuportável, mesmo em uma cidade média, como a que eu vivo.
Além do mais não sou um descrente do aquecimento global e embora entenda perfeitamente os motivos pelo qual alguém que começou a ganhar dinheiro economize para comprar um carro, acredito que “o governo” e qualquer um que enxergue mais de um palmo adiante do nariz deve fazer alguma coisa pela melhoria dos transportes coletivos, que se fossem eficientes tornariam os deslocamentos mais fáceis e a vida menos aborrecida.
No entanto, o atual governo, como todos os anteriores, desde Juscelino Kubischek, tenta resolver o problema dos transportes coletivos auxiliando a indústria automobilística, o que me parece não ser o mais inteligente e assim a vida segue um inferno antes da morte, quando tudo podia ser diferente, se, por exemplo, cada cidade média tivesse planos de mobilidade urbana e gente que planejasse sua expansão e não vereadores e prefeitos que recebem suborno das empresas de ônibus que monopolizam a prestação de um péssimo serviço a consumidores que convivem diariamente com superlotação, atrasos e tarifas inexplicáveis e abusivas.
É por isso, pelo sagrado direito de ir e vir que sou favorável a instituição de um serviço de vãs e da implantação, apesar dos riscos de superfaturamento, dos “Veículos leves sobre trilhos”, que não devem ser uma panaceia, mas que poderiam interligar os bairros mais distantes ao centro da cidade e a lugares que concentrem grande fluxo de pessoas, como o aeroporto, a rodoviária, o campus da universidade pública, o centro de convenções, o parque público mais importante, o estádio de futebol, o ginásio e similares.
Mas, porém, contudo e entretanto na campanha para prefeito que se aproxima, duvido que alguns dos “canalhas” queiram tocar no assunto, por isso vamos insistir. Que tal convidar os candidatos a pegar um “circular” as seis da tarde?
Será uma experiência inesquecível.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Anúncios/classificados/patrocínios/apoios

Associação dos amigos e defensores da bunda de Valesca Popozuda.

Dê sua contribuição para preservar esse patrimônio nacional.

Os 12 trabalhos de Wesley Djalma

II Trabalho

Caminhei a esmo, feliz pela minha desajeitada esperteza. Enchi o peito de ar, respirava melhor, a cabeça levantada. Devia estar andando em câmera lenta e na minha testa deveria está escrito:
- Eu sou foda.
Mas a alegria durou pouco.
Durou até um pastor de bíblia, palitó e pasta surgir do nada bem na minha frente, me segurar pelos ombros e olhando nos meus olhos dizer:
- Agora tu tem que rebolar, rebolar ouviu, rebolar. Ou meu fi vai cagar no pau?
Os olhos do pastor eram os olhos do negão.
Ele me soltou e seguiu adiante e eu parei desconsolado, pois certas forças no mundo estavam em ação tentando me destruir, quer dizer, me foder.
- Escrotos.
Continuei caminhando a esmo até que dei de cara com um casarão de onde saíram dois bombados cabisbaixos. Ao me verem ele zombaram:
- Mago desse jeito.
Um deles disse e outro gritou na minha cara.
- Desista.
E saíram rindo.
Achei que ali tinha alguma coisa e entrei. Era uma espécie de teatrinho, onde rapazes, em sua maioria fortes, mas vestindo roupas efeminadas faziam algum teste.
Assim que cheguei uma puta com um cigarro na boca me deu uma ficha, me olhou com descrédito e disse:
- Você é o último, se apresse.
Sentei perto de dois rapazes que esperavam sua vez e compreendi que era um teste para a escolha do novo dançarino da suingueira “Três no pau”. Mais uma vez eles me olharam com desconfiança.
Eu então ri de me acabar, pensando que estava em uma versão ainda mais brega de um desses programas como Ídolos ou Fama, até que chamaram o número 24.
Eu então levantei a cabeça sério e me dirigi até o palco resmungando, de fato alguém estava querendo me sacanear.
Os integrantes da banda que eu acredito que eram os jurados quase que não continham o riso e só então eu percebi que estava com uma calça vermelha e uma camisa regata brilhante.
A música então começou:

Tem gente que só anda de mansinho
Tem gente que só bebe um pouquinho
Mulheres que esquecem dos maridos
E acabam dormindo com o vizinho
Eu gosto de comer arrumadinho

Agachadinho
Agachadinho, agachadinho
Agachadinho, agachadinho

Tem homem que não agüenta ver mulher
Tem homem que nem sabe o que é
Tem gente que só faz com camisinha
Pessoas que só usam quando quer

Prefiro prevenir dar um jeitinho
Um sexo seguro com carinho
Você pode fazer agachadinho

Agachadinho, agachadinho.

Começou e terminou e eu só coçando a cabeça, até que um dos jurados berrou:
- Tá tirando uma com a cara da gente é brilhoso?
Eu ia mandar ele tomar no cu e sair correndo, mas vi o negão na platéia, nu e alisando a pica e então gaguejando falei:
- É que eu tava me concentrando, pode ir.
A música então tocou e eu mexi até as pregas do cu. Dancei como uma bicha louca, fui até o chão, rebolei. Até a Carla Perez perdia pra mim, quanto mais o Xande.
Quando a música terminou fui aplaudido de pé e me disseram que eu viesse na segunda para assinar o contrato de novo dançarino da “Três no pau”.
Só não me cumprimentou o negão que ria ainda mais e apontava para um certo lugar onde uma câmera filmava tudo.
Eu então tive uma crise de choro, que logo as mulheres da banda acalmaram com um copo de água com açúcar, mas eu só pensava:
- Se isso cai no You Tube, o que é que eu vou dizer lá em casa?

Os livros mais estranhos que eu li

Vez ou outra arrisco a sorte e compro um livro no escuro, é assim como assistir um filme que passa na tevê seduzido apenas por uma cena e nada mais.
Às vezes dá certo, às vezes não.
Porém, um filme tem em média duas horas, já um livro de duzentas páginas eu leio em seis, oito horas, sei lá, de modo que um livro ruim é tempo jogado fora, mas, de qualquer modo, não deixo de arriscar, pois foi assim que li “As minas de prata”, calhamaço de um autor que eu até então abominava, José de Alencar.
Contudo, para ser sincero, neste caso não foi bem assim, pois depois de me aborrecer com Iracema e Senhora ouvi um crítico falar bem desse livro, que ao entrar em um sebo imundo encontrei em uma edição de capa dura. Eram quinhentas ou seiscentas páginas com letras miúdas e lombada comida por um rato morto de fome e ainda custou dez reais.
Levei pra casa me sentindo um otário e um ano depois li. É uma mistura de romance histórico com novela mexicana, mesmo assim, é muito bom, valeu a pena e me fez respeitar mais o patrono das nossas letras.
No escuro mesmo li “A deliciosa aventura latina de Jane Spitfire espiã e mulher sensual”. O autor era um tal de Augusto Boal que eu não tinha idéia de quem fosse na época.
Li e não me arrependi.
Valeu a pena e eu recomendo a todos a curiosa novela policial e política do grande dramaturgo do teatro do oprimido.
A ignorância tem dessas coisas.
No entanto, creio que escrevo esse texto por que comprei e pretendo ler em breve “Os morcegos estão comendo os mamãos maduros” de Gramiro de Matos Ramirão Ão.
Espero que valha a pena.