segunda-feira, 31 de maio de 2010

Marx, Maquiavel e Zé Limeira V

Sabia que professor não vai para o inferno, vai não, no máximo passa umas férias no purgatório para não achar que é santo, mas do inferno passa é longe, por que agüentar menino dos outros é a mesma coisa que carregar a cruz de Cristo e é por isso que tenho pra mim, e é certo, que professor não vai pro inferno, tudo bem, tem um caso ou outro de um professor de matemática, de física, que o diabo requisite como torturador, mas é caso raro, professor não vai para o inferno e quem diz o contrário é sicofanta.
Palavra bonita essa, aprendi sem querer, lendo aquelas histórias doidas do Pantagruel. Não gosto de literatura francesa, com exceção do Balzac, mas do tal do Rabelais eu sou admirador. É, parece que não, mas, eu li muito, aconteceu quando eu era rapazote e fui atropelado por uma jamanta e quase fui dá bom dia ao cão, mas escapei e vivi dois anos me recuperando em um hospitalzinho de beira de estrada, na época chamavam nosocômio e como não tinha nada pra fazer, um dos médicos, que chegou a lançar alguns livros de contos regionalistas, livrinhos deliciosos, me emprestava de tudo e eu então adquiri esse vício de traça e além de ler passava horas discutindo com o médico que não tinha com quem conversar naquelas brenhas e me explicava o que eu gostava, mas não entendia.
Na época lembro que gostava era de autores que escreviam histórias de aventuras ao redor do mundo, ou então daqueles regionalistas que escreviam histórias de trancoso e casos de caça, de malassombro, de pega a onça, foi assim que mais quebrado que arroz de terceira eu li o Roberto Luís Estevão, ô escritor bom da gota serena, eu até hoje me lembro de uma história dele, “o ladrão de cadáveres” e também do José Conrado um polonês inglês que escreveu Lorde Jim e o José J. Veiga que falava da Divina Comédia como quem tira um dedinho de prosa e tinha ainda as histórias das mil e uma noites com aquelas mulheres fogosas e aqueles gênios e os encantamentos mais doidos do mundo, pois é, apesar de eu não poder nem andar foi um tempo bom.
A comida era ruim, mas de vez em quando a Lucrésia vinha me dá um banho. O que terá acontecido com a Lucrésia? A terra provavelmente já comeu, eu não tive essa sorte, mas ela bem que me aliviou muitas vezes. Ah a Lucrésia, as mãos da Lucrésia, mas eu tava era falando de histórias, pois é, li demais e agora continuo lendo, mas agora, como todo velho é safado, tô lendo é história de putaria, acabei de ler uma, chama “o sofá”, mas agora tão é me chamando pra almoçar e olhem vocês, ruma de desocupados comedores de furicos alheios, não há prazer maior que comer comida boa junto de quem se gosta, é simples, mas é bom demais e mais que é rins cozido com cuscuz, ô beleza, embora uma bocetinha crua mesmo não cairia mal.

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