sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Apanhados de história recente da Sapopemba I

Era uma vez um sapo-peludo muito pobre, que nasceu em um brejo seco e por isso logo migrou em busca de água e trabalho, tendo com muito esforço encontrado ambos, porém por que era urgente ganhar a vida, não conseguiu estudar, mesmo assim, quando os grandes sapos-boi donos do mundo quiseram explorar ainda mais os sapos-sapos, o sapo-peludo tomou a frente de todos e fincou o pé e peitou todos os sapos mandões e não adiantou chamar os sapos-cururus de verde oliva, pois mesmo preso o sapo-peludo não voltou atrás e conseguiu boa parte do que queria e desse modo o sapo-peludo tornou-se não o sal da terra, nem a luz do mundo, por que sapo não gosta de sal e prefere a sombra, mas a esperança de uma grande parcela da saparia da República Impossível da Sapopemba.
É bem verdade que muitos olhavam aquele sapo-peludo com desconfiança e viam nele uma fera não enjaulada, um sapo perigoso, mal-educado, louco. Muitos batráquios da cidade o olhavam com desdém, afinal era um sapo do norte, que não sabia nem coaxar direito, porém para outros, para os sapos-professores e os sapos-operários, aquele era o sapo, e por isso, desde o início foi ele o líder e o símbolo do maior partido de esquerda criado na Sapopemba, Partido que foi o Farol de Alexandria e a Escada de Jacó pra muita gente, afinal ele foi construído aos poucos e quantos sapos não deram a juventude, a inteligência e a esperança ao partido do sapo peludo, que era formado de sapos-sapos e não por sapos-batráquios, e assim o sonho foi se espalhando, sonho compartilhado por boa parte daqueles sapos que há vinte anos tinham lutado pela Independência da Sapopemba frente à ingerência dos Estados Unidos da Brejolândia.
Tais sapos sonhavam com a revolução igualitária, que dividiria as águas desse brejal imenso que era a Sapopemba, porém o povo não entendeu direito a mensagem dos sapos vermelhos e aí vieram os sapos cururus e por mais de vinte anos tomaram conta da Sapopemba e expulsaram, torturaram com sal, ou mesmo mataram qualquer sapo que se supunha fosse vermelho, ou que mesmo não sendo vermelho eles dissessem que era vermelho.
Porém, tudo passa debaixo do sol e o tempo dos sapos-cururus passou e foi a hora dos sapos vermelhos saírem da escuridão e irmanarem-se com o sapo-peludo, pois com ele tinham outra chance de mudar a Sapopemba.
Desse modo então teve início um longo trabalho de convencimento do povo e o partido, que tinha como símbolo o vaga lume solitário foi sendo construído aos poucos, de baixo para cima e poucos anos depois qualquer brejinho de nada tinha um diretório do partido do sapo peludo e o presidente não era o filho do batráquio prefeito era um sapo trabalhador, que se deixava guiar pela figura do sapo-peludo que era um pouco cada um dos sapos pobres da Sapopemba.
E assim, lentamente, os partidários do sapo-peludo foram ganhando a simpatia de todos, mas o caminho foi duro, pois a principio pouca gente acreditava que um sapo peludo, feio, quase analfabeto, tendo uma das patas mutilada e vindo do norte, teria capacidade para governar a Sapopemba e assim o sapo-peludo perdeu as primeiras eleições livres para um sapo colorido, alto, bem falante e filho de uma família de grandes proprietários de águas, porém tal sapo mostrou-se oco, incompetente, inepto, mentiroso e, por fim, corrupto, de modo que os partidários do sapo peludo puderam encontrar a razão da sua existência denunciando as incoerências e as falcatruas do sapo colorido, que assim que chegou a presidência fez aquilo que prometeu não fazer nunca, confiscar a poupança dos sapos-sapos para dar jeito a economia da Sapopemba. Assim, a inabilidade do sapo colorido fazia indiretamente o nome do sapo peludo, que neste momento já era, para muitos, sinônimo de honestidade, simplicidade e pureza e quando no auge da crise o sapo colorido pediu para que todos saíssem de casa vestidos com as cores berrantes e belas da bandeira da Sapopemba, a saparia, vestida de negro saiu dos brejais pedindo a cassação do sapo colorido, que pouco depois não resistiu à pressão e renunciou, e assim o vice-presidente, o sapo de topete, assumiu a Sapopemba.

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