VII – O VI Trabalho
Desta vez eu não corri. Caminhei a esmo até encontrar outra praça (Como tem praça nessa cidade?), onde sentei para descansar.
Depois de uns dez minutos não acreditei no que vi, o negão nu com a rola de fora escondendo a boca com a mão para não rir, veio em minha direção e sentou-se ao meu lado, esticando a pica.
Depois da esticada ele então falou:
- Calma, ninguém pode me ver, só você.
O escroto me olhou com uma cara safada que fez minha espinha congelar e meu cu ficar mais apertado do que cu de cobra.
Eu não disse nada, só o fitei aterrorizado:
- Calma, você está indo bem, sua missão agora é comer um churrasco na casa de Joca Buranha, que está com dengue. Me siga.
Levantou-se então e eu fui atrás dele, mas ele virou-se um segundo e disse, pondo a mão no meu ombro:
- Só te aviso uma coisa, a família é meio barraqueira, a mãe dele é daquelas que caiu uma pitomba, acabou-se a feira.
Eu então suspirei fundo e segui-o. Ele andou uns três quarteirões, entrou em uma rua de terra e por fim em uma casa com uma mangueira na frente e quatro carros estacionados perto: um fusca, uma brasília, um chevetão cu torado e um Uno batido.
Eu suspirei outra vez e, ao me aproximar da casa, uma mulher saiu correndo atrás de um menino nu. A mulher gritava:
- Entra pra dentro Anacleissón.
Ao me ver ela parou a corrida, ajeitou o cabelo alisado a formal e disse:
- É você o Djalma, amigo do Júnior, pode entrar.
Eu entrei como quem entra no inferno e a trilha sonora é Benito de Paula.
Fui logo apresentado a dona Zefa Apocalipse, a mãe do meu dileto amigo que eu nunca vira. A velha era de meter medo no cão, de tão gorda e feia. Não tinha um dente na boca.
Dona Zefa me levou até o quintal, onde havia algumas mesas e cadeiras de plástico. Ela me apresentou a todos e me fez sentar junto a uma das filhas dela, Liúba e um velho com um dente inchado que só fazia beber cachaça.
Assim que eu sentei me empurraram um copo de cerveja e um copo cheio de uma coisa que disseram ser salpicão.
Assim que sentei percebi um sujeito mal encarado me olhar com maus bofes. Ele tinha uma cicatriz embaixo do olho.
Caguei fino então, mas Liúba, percebendo meu nervosismo, quis me tranquilizar dizendo:
- Liga não, é o Walquimar, ele é meio tantã, mas tá tomando os remédios pra não voltar pro Juliano Moreira. Desde criança que é doido por mim. Diz que eu sou o grande amor da vida dele.
O velho do dente inchado concordou com a cabeça. O velho concordava com tudo.
Liúba não parava de falar e de vez em quando chegava mais alguém pra me conhecer e tome cerveja e tome salpicão e o sol esquentando, e o suor descendo no lascão da bunda e os mosquitos atraídos pelo cheiro das jacas zanzando perto dos meus ouvidos.
Esqueci de dizer, as mesas haviam sido colocadas embaixo de vários pezes de árovores, como me dissera dona Zefa.
Tá, até aí tudo bem.
Até um gordo trazer um cavaco pra cantar samba.
Liúba então me disse toda feliz:
- É o Francelino, o talento da família, vai ser músico.
Porém antes do “rapaz” tocar, um bigodudo sentado embaixo de um pé de goiaba gritou:
- Canta logo baitola.
O rapaz então começou a chorar e dona Zefa chegou como um raio e espancou o bigodudo com três tapa-olhos que fizeram o bicho rolar no chão. Depois, ele se levantou pedindo desculpas enquanto dona Zefa falava:
- Então seu cu de cana, você come, bebe, enche o rabo as minhas custas e fala mal do meu neto e a quenga da sua mulher, a piniqueira da sua mãe que com a idade de doze anos já tinha dado o tabaco.
A velha mãe dele que estava lá baixou os olhos e entornou um copo cheio de cerveja.
Dona Zefa foi então rebocando o atrevido até o portão enquanto um dos filhos dela, Seu Lindomar, tentou por panos quentes na confusão acendendo o fogo do churrasco.
Mas pra que ele foi fazer isso?
Dona Zefa voltou com dois quente e um fervendo e foi longo dando um tabefão de fazer pena no filho:
- Que é isso seu abestalhado, eu não disse que eu ia tirar as roupas do arame. Seu leso, também o cachaceiro do seu pai deixou o galo bicar sua cabeça.
Seu Lindomar só dizia:
- Mãe, que isso, eu sou seu filho. Na frente das visitas, do amigo do Joca.
Eu fiz que não era comigo.
Dona Zefa então disse:
- Me dá logo esse espeto antes que eu enfie ele no teu rabo perebento. Nem pra assar carne você serve.
Seu Lindomar então entregou o espeto e foi pra junto da mulher que fitou Dona Zefa com ódio, mas não disse nada.
Então, já recuperado, Francelino começou a cantar “Papel de pão”, de Jorge Aragão, para deleite de Dona Zefa, enquanto eu comecei a sentir umas cólicas que foram aumentando, aumentando, até que eu tive que pedir:
- Liúba, onde é que fica o banheiro?
Liúba então gritou para um dos meninos que passavam correndo:
- Ô Robson leva o Djalma até o banheiro e vê se tem papel que ele pode querer cagar.
Todos então olharam pra mim e eu fui caminhando meio troncho até o banheiro dentro da casa.
Estava até limpo e tinha papel, mas por mais força que eu fizesse eu não conseguia cagar.
Do banheiro dava pra ouvir a festa, de modo que eu ouvi uma mulher gritando:
- Eu vim lhe matar sua rapariga. Você roubou meu marido.
- Você não teve competência pra ficar com ele, agora ele é meu, meu.
E assim, como eu me distraí com a discussão, comecei a cagar, mas quando ouvi um tiro fechei o cu e o tolete ficou a meio caminho, foi uma agonia, eu suava e trincava os dentes e nada, até que o que era ruim ficou ainda pior.
A mulher disse:
- Cadê o Anaílson? Tá no banheiro? Vou matar ele também.
Meu furico então destampou e veio o pedaço do tolete duro e mais merda de diarreia e pra completar eu quase caí do vaso do medo do peido que eu mesmo dei, mas Dona Zefa desarmou a mulher enquanto seu Lindomar levava a outra para o hospital de Trauma.
Eu então me limpei com as mãos tremendo. Dei descarga uma meia dúzia de vezes, até um menino bater na porta e dizer:
- Ei cagão, vó não trabalha na Cagepa não.
Bem, sem alternativa eu saí e pra minha surpresa a festa continuava do mesmo jeito.
Liúba então me disse que o revólver era de espoleta e me contou dos amores do Anaílson, o Don Juan da família.
Enquanto ela contava meu copo não ficava seco e não parava de chegar linguiça, frango e farinha no meu prato.
Então finalmente um menino veio avisar que o táxi que vinha me pegar havia chegado, eu aí me despedi de todos e a Liúba ainda fez questão de me dá os seus quatro números de celular.
Quando eu passei pelo banheiro ainda fedia.
Praticamente todas as pessoas da festa foram me levar até o carro e todos tinham uma palavrinha pra mim:
- Volte sempre.
- Gostou?
- É casa de pobre, mas não falta comida.
- Não se assuste não, quando a gente reúne a família é assim mesmo.
Por fim Dona Zefa me convidou para o aniversário dela, dali a dois meses.
Ela garantiu que ia ser uma festa de arromba: fava, mocotó, caranguejo...
Eu confirmei a presença e depois de um abraço “acochado” e suado de Liúba entrei no táxi, mas ainda ouvi dona Zefa dizer:
- Meu filho Joca sabe escolher as companhias, é um Lorde esse menino, até cagar ele caga como um lorde.
Eu então prestei atenção no taxista e sem surpresa vi que era o negão rindo.
Ele virou-se pra mim e disse:
- Tá achando ruim? Olha que você nem conheceu o Joca Buranha.
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