quarta-feira, 6 de junho de 2012
Assim mesmo
Dizer que o Brasil, ou melhor, que os brasileiros não têm memória é um lugar comum irritante a que recorro envergonhado para chorar a morte de um grande artista.
Dicró.
Sim, Dicró, aquele mesmo que cantou os sabores da mulher, que falava das louras de pentelho preto e que ganhou a vida falando mal das sogras.
Ele sim, um grande artista, que espero não seja esquecido como Bezerra da Silva (apesar do disco do Marcelo D2) e do gênio Moreira da Silva, de quem já é bem difícil conseguir comprar algum Cd (se não fosse a internet?), mas, tergiverso, estava escrevendo sobre o Dicró e por que ele é um grande artista.
Primeiro, por que vivia da sua arte, vendendo seus próprios Cds, fazendo shows e contando causos em programas de televisão, ou seja, era “um artista”, mas era também um “Artista”, por que não poupava ninguém em suas críticas devastadoras, por que leu o Brasil, intuitivamente, pelo lado do picaresco e do grotesco.
Por que fazia crônica do cotidiano do subúrbio carioca e de tudo que lhe chegava aos ouvidos ou via com seus próprios olhos nas viagens que fazia pelo Brasil.
Era um malandro de língua ferina, de modo que dizia muita verdade em meio a vulgaridades que alguém mais “refinado” acharia um horror.
Dicró era punk.
Mas quem já ouviu um Cd inteiro do Dicró? Quem se desarmou dos preconceitos para assistir uma entrevista do “último malandro”?
Pouca gente, mas essa pouca gente se espantou com a lucidez do velho que tanto alardeava que gostava de “bater uma virilha”. Talvez nem batesse mais, porém o que não faltava era porrada no Brasil sexta economia do mundo.
Assim, nem rico nem pobre; nem gay nem machão escapava. Não escapava ninguém, no entanto, esses artistas de “boca suja” nunca são levados a sério. Há todo um lado B da arte brasileira que costuma passar longe da crítica por que escancara o que a maior parte dos brasileiros quer esquecer: somos boçais e, talvez por isso, felizes. Somos patéticos e, por isso, tristes de dar dó.
Mas somos de verdade.
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